sábado, 1 de dezembro de 2012

Joyce

A cantora, compositora e instrumenta Joyce Silveira Moreno, conhecida apenas como Joyce, nasceu no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1948.

Joyce
Até o surgimento de Joyce, em 1967, nenhuma mulher se atrevia a compor/cantar no feminino no Brasil. A pioneira Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran e Maysa eram "neutras". Foi num festival em 1967 que ela ousou dizer, aos 19 anos, "meu homem não me ama". Isso lhe custou vaias do público e críticas de homens do meio musical e da mídia, pelos quais foi acusada de ser vulgar. A canção era "Me Disseram", foi gravada em seu primeiro LP, em 1968, e, apesar de hoje ela achar ingênua, é um marco de sua carreira.

Quando lançou o primeiro disco em 1968, Joyce dividiu as faixas entre composições de amigos daquele momento, como Caetano Veloso, Marcos Valle e Jards Macalé, e outras de sua autoria. "Eram músicas falando na primeira pessoa do feminino. Isso deu muita encrenca naquela época. Fui muito malhada por causa disso. Os jornalistas eram muito machistas. Tinha gente que duvidava que as músicas eram minhas." Enquanto Sérgio Porto a atacava, outros, como Vinicius de Moraes, a defendiam. "Ficou uma discussão sem sentido. Quando conto essa história hoje, principalmente fora do Brasil, as pessoas morrem de rir porque parece tão absurdo. Mas como!? Já era 1968", diz, rindo.


Joyce
Nos anos 70, Joyce teve duas filhas e continuou gravando discos, mas passou "meio em branco na carreira". Passando um tempo no exterior, registrou em Nova York um disco com Claus Ogerman, que ela considera "maravilhoso", mas nunca foi lançado. Nesse período ela também gravou na Itália "Passarinho Urbano" (1976), um disco de intérprete com canções de compositores que vinham sendo censurados no Brasil. "De minha parte foi uma manifestação mais política", lembra.

Na volta ao Brasil, "cheia de músicas", começou a mostrá-las e ela então passou a ser gravada, na virada dos anos 1970 para os 80, pelos principais intérpretes brasileiros, entre eles Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia, Nana Caymmi e Ney Matogrosso. Isso despertou o interesse da gravadora Odeon, para que ela gravasse "Feminina". Seu grande orgulho foi ter sido gravada por Elizeth Cardoso, mas a pioneira foi Marília Medalha, com "Três Cavaleiros". Era para ter sido Bethânia, mas nem ela teve coragem de gravar ou defender "Me Disseram" no festival, justamente por causa da expressão "meu homem".


Joyce
O ano de 1980 foi um marco. Além de lançar "Feminina", cuja canção-título se tornou sua assinatura, Joyce classificou a canção "Clareana", feita para suas duas filhas, no festival MPB80, da Rede Globo. Engrenando com toda força, Joyce diz que foi levada pela música, com um material significativo que vinha trabalhando desde 1976.

"Feminina", a canção, ganhou ares de manifesto, integrando a trilha de dois programas da Rede Globo que assinalaram uma nova era da mulher na música e na televisão: o seriado "Malu Mulher", estrelado por Regina Duarte, e o especial "Mulher 80". Este foi ao ar em outubro de 1979 e ressaltou a já evidente predominância das vozes femininas na MPB, revelando o talento de compositoras de algumas delas.

O "Mulher 80" reuniu cantoras reveladas em meados dos anos 60 e 70, que estavam no auge - como Elis Regina, Gal Costa, Rita Lee, Maria Bethânia, Simone, Fafá de Belém, Zezé Motta - e outras que despontavam com força, como Zizi Possi, Marina Lima, Ângela Ro Ro e Joanna. Com números musicais e depoimentos das cantoras, o programa, que saiu em 2008 em DVD pela Biscoito Fino, impulsionou a discussão papel da mulher na sociedade, assunto ainda um tanto restrito na época. "Feminina" foi interpretada pelo Quarteto em Cy e Narjara Turetta, que fazia o papel de filha de Malu (personagem de Regina Duarte) na série. Depois dessa fase, sem jamais parar de compor e gravar excelentes discos, Joyce passou um longo período mais valorizada no exterior (especialmente Europa e Japão) do que aqui. Naqueles países seu nome é mais associado à bossa nova.

Sua gravação de "Aldeia de Ogum" (do álbum "Feminina") desencadeou um boom do gênero em Londres, onde os DJs passaram a tocar na noite. Em decorrência disso tudo, ela foi convidada a fazer a curadoria do show em comemoração aos 50 anos da bossa nova no Barbican Hall, no dia 26 de maio de 2008. Além dela, o evento reuniu os veteranos Carlos Lyra,Wanda Sá e Roberto Menescal, expoentes da segunda geração da bossa nova - ela, João Donato, Marcos Valle e Dori Caymmi - e três dos que deram continuidade: Vinicius Cantuária, Celso Fonseca e Clara Moreno.


Joyce
Tanto com ícones ligados à bossa nova (Menescal, Hime, Lyra e Donato) como com expoentes de outras estilos e gerações (Zé Renato, Paulo César Pinheiro), Joyce tem mantido um volume intenso de trabalho. A composição veio primeiro em sua carreira, mas, além de cancionista e cantora de estirpe, "toca todo aquele violão", como observou um dia Tom Jobim. "As músicas vêm e eu vou botando pra fora com muita facilidade."

Na primeira fase de sua carreira havia vários movimentos musicais acontecendo. Ela veio na continuidade da bossa nova e ao mesmo tempo mantinha contato com os baianos tropicalistas ("meus primeiros amigos na música"), com a mesma facilidade com que foi acolhida pelos novos sambistas (Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Maurício Tapajós) e transitava entre o pessoal do que se convencionou chamar de MPB, e que brilhou nos festivais, como Edu Lobo e os mineiros, entre eles Milton Nascimento e Nelson Ângelo, com quem foi casada.

"Naquele momento havia muita rivalidade, os festivais estimulavam muito isso. Mas todos achavam que eu era meio participante de alguma maneira dos movimentos deles. Vi o tropicalismo sendo armado, mas em nenhum momento me senti parte daquilo. Eu me sentia como uma espectadora privilegiada."


Joyce / 2012
Ela também acompanhou toda a gestação do chamado "Clube da Esquina". "Tem gente que acredita até hoje que faço parte daquele movimento dos mineiros. Eu achava que tinha mais afinidade musical com o pessoal que veio da bossa nova, como Dori, Marcos Valle, Edu, mas na verdade sempre fui completamente outsider." Filosoficamente, talvez Joyce se reconheça como tropicalista. "No fundo, somos todos filhos da bossa nova e netos do samba dos anos 30", resume a cantora que completou 60 anos em janeiro de 2008, mas continua dando banho de graça e leveza que muitas cantoras e compositoras novas não têm.

Para celebrar os 40 anos de carreira, Joyce realizou, em 2008, uma série de shows no Teatro Fecap, recebendo como convidados Dori Caymmi, João Donato, Leila Pinheiro, Mônica Salmaso, Zé Renato, Francis Hime, Roberto Menescal e as filhas Clara Moreno e Ana Martins, inspiradoras de Clareana quando crianças. Essas apresentações foram gravadas e se transformaram no DVD e no CD Joyce ao Vivo (EMI), que a cantora lança de volta, em fevereiro de 2009, no mesmo teatro. .

Fontes: Jornal O Estado de S. Paulo; Biscoito Fino; Galeria Flickr.



                                                                                         Joyce - "Clareana" - Fantástico / 1980


                                                                                                               Joyce - "Feminina"


Um comentário:

  1. Sou fã. Foi de uma de suas músicas (clareana) que tirei o nome de minhas duas filhas Clara e Morena

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