quinta-feira, 25 de junho de 2020

Jackson do Pandeiro

(Alagoa Grande/PB, 31 de agosto de 1919 - Brasília/DF, 10 de julho de 1982)

Paraibano, nasceu em uma família grande de artistas populares. Sua mãe, Flora Mourão, era cantora e folclorista de Pastoril e o batizou como José Gomes Filho. Apelidou-o de Jack pelo sua semelhança física com um ator norte-americano de filmes de western dos anos 30, Jack Perry.
Começou na verdade, tocando zabumba, para acompanhar a mãe, mas fazia sucesso na região com o instrumento que marcaria sua trajetória: o pandeiro. Com ele, viajou em busca do sucesso. Passou por Campina Grande e João Pessoa onde adotou o pseudômino de “Zé Jack”. Sua busca pelo sucesso o leva a capital pernambucana.
Decidiu se tornar músico quando ouviu “A Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto). Trabalhando numa padaria forma uma dupla de brincadeira com José Lacerda, irmão mais velho de Genival Lacerda.

Jackson do Pandeiro

No início da década de 50, ainda em Recife, começa a se apresentar na Rádio Jornal do Comércio onde, por recomendação de um diretor da emissora, adota o nome artístico de Zé do Pandeiro. Tendo chamado a atenção da direção da emissora consegue gravar seu primeiro compacto de 78 rpm. Era o xote “Sebastiana”, que já demonstrava que além de ser o rei do ritmo, Jackson do Pandeiro, iria buscar inovações estéticas dentro da música nordestina. Ele já arriscava nas suas improvisações de vocalizações com tempo variado dentro de uma mesma música.
Torna-se, depois de alguns compactos, um verdadeiro sucesso no Nordeste e Norte do país. Os ecos do seu sucesso já começavam a chegar ao Rio de Janeiro. O xote “Forró no Limoeiro” foi um sucesso estrondoso e Jackson impunha-se cada vez mais como um artista popular que se pautava pela ousadia numa época de poucos improvisos tupiniquins, vindo a se tornar referência para artistas oriundos tanto da classe popular quanto da classe média brasileira.

Jackson do Pandeiro

No Recife, conhece sua futura esposa, Almira Castilho, uma ex-professora que cantava mambo e dançava rumba Nessa época consegue gravar pela gravadora pernambucana Mocambo seu primeiro sucesso: o xaxado “Sebastiana” de autoria do pernambucano Rosil Cavalcanti.
Jackson e Almira formavam a dupla perfeita. Desde o início se preocupavam com o visual e com as performances de palco. Ela, sensual com um belo jogo de cintura e ele, com toda musicalidade explosão de ritmos e uma voz especial. Almira teve um papel fundamental na vida de Jackson, pois o ensinou a escrever seu nome e o estimulou a expandir sua música além das divisas da Paraíba.
Esta paixão avassaladora os uniu e os levou, em 54, ao Rio de Janeiro. A união em casa e no palco durou até o ano de 1967 quando se desfez a dupla e o casamento.

Jackson do Pandeiro e Almira Castilho

A trajetória de Jackson de Pandeiro não registra números de vendagens significativos, nenhuma aventura pelo exterior e muito menos o charme que cerca os ídolos da música popular brasileira.
Antes de mais nada, Jackson do Pandeiro pode bancar a vinda ao Rio de Janeiro com o dinheiro obtido com o compacto do rojão “Forró no Limoeiro”. Ele queria conhecer os jornalistas que escreviam sobre sua música nos jornais cariocas. Conheceu a maioria deles. Faz ainda algumas apresentações em São Paulo, em boates e em programas de auditório de rádio e tv.
Convidado pelo empresário Vitorio Lattari ele gravou alguns compactos. O público sulista se apaixonou, então, pela embolada “Um a um”. Retornou a João Pessoa e gravou O “Xote de Copacabana” uma homenagem à Cidade-Maravilhosa que o fascinou. Casou-se em outubro de 54, em João Pessoa, com sua parceira.

Jackson co Almira Catilho

Devido a aceitação do público e crítica na sua primeira ida ao Rio de Janeiro, decidiu, em 55, se mudar definitivamente com a esposa Almira. Se apresentou nas emissoras de rádio, Tupi e Mayrink Veiga, e foi contrato pela Rádio Nacional. A partir daí, Jackson do pandeiro começou a transformar o rumo da música nordestina, freqüentando assim como Luiz Gonzaga, o eixo central da indústria cultural do país.
A pedido da demanda do mercado musical carioca, Jackson do Pandeiro gravou marchas de carnaval, como “Mão na toca”, “Intenção” e “Boi da cara preta”. Em 62, ele veio a gravar um grande sucesso carnavalesco, a marcha “Me segura que eu vou dar um troço”.
Adaptado aos diversos ritmos brasileiros de raiz, Jackson do Pandeiro demonstrou ser artista com livre trânsito na base musical brasileira, um artista completo. Ele começou então a misturar a malandragem e a malícia do samba carioca com o suingue das emboladas e dos cocos nordestinos.
Durante a década de 50, Jackson e Almira ganharam projeção na mídia nacional e começaram a atuar como artistas em filmes populares, como "Minha sogra é da polícia", "Cala boca Etevilna", "Tira a mão daí" e "Batedor de carteiras". Destaque para a película "Tira mão daí" , de 1956, em que o músico atuou ao lado de Ângela Maria, Virgínia Lane e das irmãs Linda e Dircinha Batista.
Até a dissolução da dupla, o trio "Pau de Arara" - formado pelos irmãos Geraldo "Cícero", João "Tinda" Gomes, pelo sobrinho Severino e Vicente e Pacinho - os acompanhava no formato de típico de "trio" nordestino - zabumba, triângulo, arcodeon, pandeiro e violão. Depois da dissolução, o conjunto foi rebatizado de Borborema.

Jackson do Pandeiro - 1981

O primeiro álbum saiu em 54 pela Columbia (mais tarde absorvida pela Continental) reuniu compactos e lançou o primeiro álbum da dupla intitulado "Sua Majestade - O Rei do Ritmo". O trabalho que traz diversas composições de compositores nordestinos pode ser considerado um apanhado dos ritmos que se encobrem o título do forró.
O acelerado ritmo do rojão aparece em quatro músicas: “Forró em Caruaru” (Zé Dantas); “Cabo Tenório” (Rosil Cavalcanti), “1X1”(Edgar Ferreira) e “O crime não compensa” (Genival Macêdo e N. de Paula). O coco tipicamente alagoano aparece em quatro músicas: “Sebastiana” (Rosil Cavalcanti); “Cremilda” (Edgar Ferreira); “A mulher do Aníbal” (Genival Macêdo e N. de Paula) e “Coco Social” (Rosil Cavalcanti). O ritmo sincopado do xote aparece em “Cremilda” (Edgar Ferreira) e “Xote de Copacabana” (Jackson do Pandeiro). O batuque nordestino aparece em “O Canto da Ema” (Alventino Cavalcanti, Ayres Vianna e João Vale). O samba aparece em “Falsa patroa” de autoria do sambista carioca Geraldo Jacques Pereira e de Isaias de Freitas.
Na sequência, vêm os LPs "Jackson do Pandeiro", "Forró de Jackson", "Os Donos do Ritmo", "A tuba de muié" e "O Cabra da Peste" que coroam o sucesso da dupla Jackson - Almira dentro da música popular brasileira. Um dos seus maiores sucesso foi o samba “Chiclete com Banana” que demonstra uma visão cosmopolita da música brasileira, pois a composição de Jackson e Gordurinha tem uma letra de concepção antropofágica em defesa da música nacional: "quero ver o Tio Sam, numa batucada brasileira".

Jackson do Pandeiro

Os sucessos se repetiram nas AMs de todo Brasil: o arrasta-pé “Casaca de Couro”; o xamêgo “Forró na gafieira”; o baião “A cantiga do sapo”; os cocos “O Falso Toureiro” e “Cajueiro”. A parceria com Gordurinha gerou outra pérola do cancioneiro popular: o samba-coco “Meu enxoval”.
Demonstrando que o forró acompanhava a história do país absorvida pelo imaginário popular, Jackson do Pandeiro gravou o forró de Edgar Ferreira “Ele disse”, baseado na carta-testamento do ex-presidente Getúlio Vargas.
A aula de sofisticação da música de raiz nordestina de Jackson do Pandeiro continuou no balanço de “Capoeira mata um”, no forró de autoria da esposa, “Forró Quentinho”, e no baião “Bodocongó” de autoria de Humberto Teixeira e Cícero Nunes.
No final dos anos 60, a dupla foi perdendo espaço na mídia, principalmente, devido ao fenômeno da Jovem Guarda. Em decorrência de desavenças amorosas na relação de Jackson com Almira, a dupla se desfez em 67. Nos anos subsequentes, Jackson caiu numa espécie de ostracismo artístico, fruto do fim do relacionamento e das mudanças no mercado fonográfico nacional.
Em menos de dois anos, se apaixona por Neusa da Silva e passa a viver com ela até o resto de sua vida.
Com o advento da Tropicália e seu resgate da música nordestina Gilberto Gil regravou, em 72, e fez sucesso com “Chiclete com Banana”, gravado no álbum "Expresso 222". Na faixa-título desse álbum fica evidente a influência de Jackson do Pandeiro na construção rítmica e vocal da música. Anos depois, ele regravaria ainda “O Canto da Ema” e “A Cantiga do Sapo”.

Jackson e Neuza, sua última esposa

Gal Costa regravou “Sebastiana” e o cantor e compositor Alceu Valença o chama em 72 para defender em dupla com o coco-elétrico “Papagaio do Futuro”. Um público jovem de classe média universitária começou a se interessar pela música de Jackson do Pandeiro.
Reestimulado pelo apoio, Jackson do Pandeiro voltou a gravar, em 72, pela CBS e lançou outro álbum primoroso: "Sina de Cigarra". Os destaques para a faixa-título e o primeiro rojão gravado, “Catirina”, do compositor alagoano Jararaca e “O Puxa Saco”, de Zé Catacra. Também, a malemolência do samba carioca na divisão de voz de Jackson em “Chico Chora”, de autoria de Bezerra da Silva -Ataylor de Souza e Paulo Filho.
Dois anos depois, ele gravou o álbum "Se tem mulher to lá" da gravadora Chantecler. que conseguiu alcançar projeção nas rádios AMs.
Nos anos seguintes, continuou a fazer shows pelo Brasil afora, mas tem seu nome artístico ligado mais à sazonalidade das festas juninas do que ao mercado de MPB, apesar do reconhecimento da crítica especializada. Lançou ainda nos anos 70, os LPs "Um nordestino alegre" e "Nossas raízes", mas já sem a mesma projeção nacional dos anos 50.
Em 81, gravou pela Polygram seu último trabalho: "Isso é que é forró" que trouxe um Jackson do Pandeiro exibindo música forrozeira em “Quem tem um não tem nenhum “e sambas sincopados, como o “Competente demais”, de sua autoria. O último disco contou com a presença do conjunto Borborema e com a produção de Armando Pittigliani , que respeitou os arranjos concebidos por Jackson do Pandeiro.

Jackson do Pandeiro

No ano seguinte, durante excursão empreendida pelo país, Jackson do Pandeiro, que era diabético desde os anos 60, morreu, aos 62 anos, em Brasília, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Ele tinha participado de um show na cidade uma semana antes e no dia seguinte passou mal no aeroporto antes de embarcar para o Rio de Janeiro. Ele ficou internado na Casa de Saúde Santa Lúcia. Foi enterrado em 11/07 no cemitério do Cajú no Rio de Janeiro com a presença de músicos e compositores populares, sem a presença de nenhum medalhão da MPB.
O futuro da carreira parecia se reabrir, pois a Ariola queria fazer um disco dele com participações com nomes da MPB, como Alceu Valença, Moraes Moreira e Elba Ramalho. Não houve tempo para o reencontro de Jackson do Pandeiro com o sucesso e com uma outra geração de fãs.
Um ano após a morte de Jackson, foi realizada em São Paulo a Mostra "30 anos de Rojão" que reuniu fotos, filmes e shows em homenagem a Jackson do Pandeiro. O evento contou com a participação de Zé Keti, Mineirinho, Odair Cabeça de Poeta, Paulinho Boca de Cantor, Edgar Ferreira.
O paraibano Jackson do Pandeiro foi escolhido para ser o artista homenageado na Décima-Primeira edição do Prêmio Sharp que foi realizado em 13 de maio de 97. A nata da MPB prestou tributo a Jackson do Pandeiro em interpretações ou em regravações. A lista de nomes é grande e não pára a cada ano de crescer: Alceu Valença, Gilberto Gil, Gal Costa, Lenine, João Bosco, Paralamas do Sucesso, Geraldo Azevedo, Genival Lacerda, Zé ramalho, Tom Zé, Cascabulho, Chico César, Leila Pinheiro e Chico Buarque.







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